Arthur Neto diz que prefere manter a credibilidade ao voto à popularidade

23/10/2012 10:53

Por Marivaldo Silva folhaamazonica.com Manaus AM

 

Nesta entrevista, a terceira concedida à Rede Diário de Comunicação,o candidato da coligação ‘O Futuro é Agora’ fala das expectativas para o segundo, das estratégias adotadas na campanha

Arthur negou que esteja interessado em se candidatar ao Senado em 2014

Manaus - O candidato da coligação ‘O Futuro é Agora’, Arthur Neto (PSDB), obteve 385.855 votos, o correspondente a 40,55% dos votos válidos, abrindo vantagem para o segundo turno.

Arthur, que no início da corrida eleitoral contava apenas com o PPS em sua coligação, ganhou os apoios do PSB de Serafim Corrêa, do DEM de Pauderney Avelino e do PR de Henrique Oliveira, todos candidatos derrotados no primeiro turno.

Nesta entrevista, a terceira concedida à Rede Diário de Comunicação, Arthur fala das expectativas para o segundo, das estratégias adotadas na campanha e revela que prefere manter a credibilidade ao voto, à popularidade.

Candidato, os partidos que se aliaram ao senhor neste segundo turno, principalmente o PSB de Serafim Corrêa, o PR de Henrique Oliveira e o DEM de Pauderney Avelino, terão participação no seu governo, caso vença a eleição?

Participação não obrigatória, mas possível. Nós vamos ter de governar com quadros competentes, com quadros que sejam capazes de tocar Manaus adiante. Agora, nós não teremos e jamais poderemos admitir é partilha. Eu vejo muito isso nos últimos dez anos no Brasil e não concordo. “Aquilo ali é feudo do fulano. Aquilo ali é feudo do beltrano”. Isso não existirá. Compromisso que eu e Hissa (Abrahão) temos é com Manaus e é uma expectativa muito grande que eu percebo nas pessoas e não vamos trair essa expectativa a nenhum pretexto. Nada, nem ninguém, está acima desse nosso compromisso com a cidade.

O Serafim foi seu secretário quando o senhor foi prefeito. Ele pode vir a ser secretário numa possível gestão sua?

Ele é um técnico de mão cheia. Se ele é uma pessoa capacitada pra ser prefeito, ele, óbvio, é capacitado pra ser secretário ou qualquer outra coisa. Ele tem sido de uma ajuda pra mim excepcional. Não só na formulação de programa de governo, como também nas caminhadas de rua. Tem sido de uma dedicação exemplar, de uma dedicação ímpar na campanha. Mas não estamos cogitando nada ainda. Isso nós vamos conversar, Hissa e eu. Depois que a eleição passar, se confirmando os resultados, depois de um descansozinho que ele vai ter de um lado e eu vou ter de outro, aí, vamos nos encontrar em algum lugar que não vai ser Manaus. Temos que fugir um pouco das pessoas, aí nós vamos conversar.

No debate da Band, deste segundo turno, o senhor disse que o Hissa terá uma secretaria importante. Já tem definido isso? Qual secretaria?

Eu até tenho uma ideia, mas não me sinto à vontade pra revelar. Mas só sei que será uma coisa muito importante mesmo. Algo que dê a ele a oportunidade de mostrar o seu valor, a sua capacidade de trabalho. Ele é uma pessoa que tem muita disciplina, muita disposição. Está sempre a postos, disponível pra fazer as coisas mais duras da campanha. Eu criei muita admiração pela forma dele agir, muita estima pessoal por ele. Nós demos muito certo. No temperamento e na forma de atuar. Portanto, eu conto com ele como braço direito nessa administração, se de fato nós confirmarmos o que as pesquisas dizem. E até por uma larga margem, que seria a nossa vitória eleitoral.

O senhor acabou de receber o apoio do PV, que estava na coligação da sua adversária. Isso traz alguma implicação legal?

Não, porque não foi um apoio da direção do PV. Foi um apoio da maioria esmagadora dos militantes e dos candidatos do PV. Cidadãos que deveriam estar sufocados onde estavam e que deram o seu próprio grito de liberdade. E foi também o PSDC, também com seus candidatos, ou seja, nós temos entendido que nossa candidatura começou a representar, cada vez mais, Manaus. Pensavam que era fácil derrotar a gente. Derrotar um sentimento que a gente passou a representar, aí é mais complicado. Sentimento você não pega, como pega nesse papel, nesse microfone. Depois, ficou difícil de nos identificar porque o nosso rosto se misturou com o rosto das pessoas. E, finalmente, como é que vão derrotar os eleitores de Manaus? Você pode derrotar o Arthur e o Hissa com os eleitores de Manaus. Mas derrotar os eleitores de Manaus contra os eleitores de Manaus? Não é com o eleitor do Pará, porque a maioria dos paraenses aqui vota em nós, nem do Maranhão, que vota na gente também. Nem é com eleitor do Ceará, porque a maioria também vota na gente. Venusiano, que eu saiba, não tem título de eleitor aqui. E acredito que nenhuma força da natureza haverá de se opor à mudança que nós propomos. Então, estamos muito confiantes. E os apoios são bem vindos porque representam a expressão. É um sentimento que tomou conta da cidade e não pense que eu me iludo com isso não. Nós nos mantemos na humildade, com o pé no chão, o Hissa e eu, porque sabemos ter uma relação quase matemática entre a votação alta e expectativa. Porque votação alta significa muita expectativa.

E a que o senhor atribui a grande diferença na votação, no primeiro?

Sinceramente? É o povo votando em si próprio. Porque é um sentimento que se criou. Manaus quer mostrar que não tem dono. Manaus pertence a si própria. Manaus vem de Manaós, Manaós vem de Ajuricaba. Então é uma terra guerreira. Em 1972, só duas cidades derrotaram no voto a ditadura. Rio de Janeiro e a nossa Manaus, aqui com o fenômeno da votação do Fábio Lucena. Os outros perceberam, depois de Manaus, que era possível derrotar o regime. Então, Manaus, mais uma vez, está mostrando que é dona do seu nariz. Que é uma mulher sedutora, que não pertence a ninguém, e que nessa hora tomou seu destino nas próprias mãos e que nos fez de instrumentos. Não somos mais do que instrumentos do sentimento de mudança que Manaus encarna.

A candidata Vanessa está dizendo que o senhor é candidato do Amazonino (Mendes). O senhor chegou a conversar com ele depois que ele voltou de São Paulo, depois da cirurgia?

Não, não, não! Quando eu era inimigo dele, que eu não o cumprimentava, e que ele teve um acidente, eu fui a primeira pessoa que chegou lá. Antes da família dele, eu cheguei. Ele tomou um susto quando me viu. Eu cheguei pra dar um abraço nele, pra me solidarizar com ele. É o meu modo de ser, que é difícil para as pessoas que não têm capacidade de ter um sentimento maior, compreenderem. Mas eu tenho um sentimento largo. Aprendi isso com meu pai, aprendi isso na luta, não sou de rancores. O engraçado é que ela fica falando a história de Amazonino e os rumores nos jornais são de que ela queria o apoio do Amazonino também. E o mais engraçado é que ela não reclamou nem um pouco quando o Lula foi apoiado pelo Amazonino, a Dilma foi apoiada pelo Amazonino. Em outras palavras, os rumos das pesquisas talvez expliquem esse vazio. Então, imaginar que alguém manda em mim. Há suspeitas de que mandem nela, mas mandar em mim? Será que alguém, em sã consciência acha que isso é possível? Todo mundo que me conhece pode até não gostar de mim, não concordar comigo, mas achar que eu serei títere de alguém? As pessoas sabem que eu tenho personalidade política própria e que sempre subi o rio. Eu nunca fui de descer o rio. E jamais fui de pegar moleza. Minha vida é assim. Longe de cargos, de benesses. Longe de cargos, até quando eu era ministro do Fernando Henrique. Eu não era de ficar nomeando pra cá, pra acolá. Atendi ao Eduardo Braga, quando ele pediu o Isper Abrahim pra Suframa. Por mim, não tinha o menor interesse em nomear ninguém pra lá.

O senhor tem amizade com o governador Omar Aziz. Nessa campanha, chegou a dialogar com ele em algum momento?

Não, não. Ele tem a opção dele, eu tenho de respeitar. Mas eu sei que ele muito me estima. E eu tenho certeza de que teremos uma fraterna convivência. Uma convivência muito justa, muito fraterna. E eu proponho mesmo uma ação conjunta. O que é uma ação conjunta? Ele gasta numa obra, eu gasto noutra, nós gastamos juntos numa terceira. Pra nós fazermos o dinheiro render e não termos superposição de funções, que é uma coisa muito danosa à boa gerência.

O senhor adotou a estratégia de colocar o seu vice à frente de alguns eventos de campanha, caminhadas, etc. Por que vocês resolveram adotar essa estratégia?

Eu tenho um vice que é dotado de muita personalidade política. É uma pessoa que disputou uma eleição para governo do Estado, foi muito bem-sucedido, 15% dos votos em Manaus. Bom orador. Figura física que agrada às pessoas. Figura simpática, fácil de lidar com ele. Graças a Deus, porque eu posso ir prum lado, ele pode ir pro outro. Quando a gente vai junto, é uma coisa muito grande, é um rio caudaloso. Eu diria que, talvez, outros candidatos pudessem não ter algo parecido. É um patrimônio. E quando eu montei a estratégia de campanha, eu montei pensando em ter um vice do porte do Hissa. Que não é só pra campanha, é pra ajudar a governar. Então, quanto mais destaque para uma pessoa desse porte, melhor. É muito ruim quando você tem um vice que precisa ficar escondendo. Aí, não é o caso. Eu tenho orgulho do meu vice.

O fato do senhor tê-lo destacado na campanha gerou a desconfiança de que o senhor estaria concorrendo à prefeitura, mas depois concorreria ao Senado e estaria deixando o Hissa pronto para assumir a prefeitura. Tem alguma verdade nisso?

Se eu fosse senador e não tivessem tungado o meu mandato como tungaram, não passaria a mim a ideia de disputar o Senado. Eu tenho uma história de diversos mandatos, de 34 anos de vida pública, e nunca interrompi nenhum mandato pelo meio. Sempre fui ao final de todos os meus mandatos. Talvez isso me dê algo que alguns perdem e nem notam que estão perdendo. Credibilidade. Se você pergunta pra mim: ‘Artur, você está feliz com o momento que você vive?’ Eu digo: ‘Muito!’ Eu sei que em algum momento vamos ter de enfrentar a realidade. Manaus tem problemas muito graves. Eu sei que a expectativa é alta, nós vamos fazer de tudo pra corresponder. Mas você pergunta: ‘O que você prefere, popularidade e, portanto voto, ou credibilidade?’ Eu prefiro credibilidade e voto, nessa ordem. Mas escolha uma. Eu escolho credibilidade. Por uma razão simples. Voto vai e vem. Isso eu sei. Credibilidade, eu sei também. Não é bumerangue, quando ela vai, não volta. Eu não abro mão de ter credibilidade. De falar as coisas e as pessoas saberem que eu estou falando a verdade. Quem começa com muita historinha vai corroendo as bases de sua credibilidade. E depois termina melancolicamente a carreira política que poderia ser bonita, que poderia ser brilhante.

Em um dos debates, o senhor divulgou um e-mail pras pessoas mandarem seus currículos porque o senhor selecionaria pessoas com capacidade técnica para compor o seu governo. Como é que foi o retorno disso?

Eu ainda não abri. A bem da verdade, eu não estou abrindo nem os meus, né? Eu estou com mais de mil lá e vai ser uma loucura depois. Eu tenho pedido às pessoas pra não mandarem pra mim, pra mandarem pra minha mulher, que ainda consegue administrar o dela, mais ou menos. Eu não consigo administrar. Mas além disso, mesmo que eu tivesse pouco do meu pessoal mesmo, que desse para administrar, eu tinha tomado a decisão de não abrir aquilo antes de estar eleito prefeito. Porque a gente não vai nem ficar por aí. A gente vai fazer o chamado ‘hedhunting’. Vai caçar cérebros, vai caçar talentos. Se eu souber que tem uma pessoa muito boa em determinada especialidade. Ah, mas essa pessoa é do PT. Aí, eu vou procurar essa pessoa e vou dizer: se você vem, teu partido te permite, eu te quero, desde que você seja leal ao meu projeto de governo. Leal ao meu projeto de governo? Pode ser do PT, do PJ, do PL, do ‘pê’ não sei o quê...Eu quero que seja uma pessoa competente e que venha pra resolver o problema. Nós não vamos resolver todos os problemas de Manaus, jamais prometi isso, mas as pessoas vão ver a luta que nós vamos empreender.