No tribunal, atirador da Noruega cita existência de 'duas outras células' Extremista Anders Behring Breivik é julgado por assassinato de 77 pessoas. No 2º dia de júri, ele disse que cometeria o crime de novo e pediu liberdade.

17/04/2012 10:06

 

Por Marivaldo Silva

 

O ultradireitista norueguês Anders Behring Breivik afirmou nesta terça-feira (17), no segundo dia de julgamento pelos atentados na Noruega em 22 de julho de 2011, que havia "outras duas células" terroristas autônomas e constituídas, cada uma, por um único indivíduo.

Breivik já havia mencionado a existência das células. Segundo ele, o título "comendador", que usava para falar de si próprio em documentos apreendidos pelo processo, "se refere a uma pessoa que tem uma autoridade e laços flexíveis com outras duas células".

"Sou uma célula autônoma e independente, e estou em contato com outras duas", disse.

Breivik afirmou ser membro da organização Cavaleiros Templários, mas os promotores do processo duvidaram na segunda-feira da existência do grupo.

Nesta terça, o assassino confesso insistiu que tudo o que disse sobre o grupo é verdade, mas alterou um pouco a descrição, e afirmou que o mesmo é integrado por poucos indivíduos na Europa.

Em sua declaração pelo massacre, no qual morreram 77 pessoas, o atirador negou ser doente mental , demonstrou orgulho por sua ação, disse que faria tudo de novo e pediu para ser libertado.

Ele afirmou que voltaria a cometer os crimes, que qualificou de "o atentado mais espetacular do século".

"Sim, eu faria de novo", disse.

Anders Behring Breivik (Foto: Heiko Junge/Scanpix Norway/AP)
Anders Behring Breivik sorri no tribunal nesta terça-feira (17) (Foto: Heiko Junge/Scanpix Norway/AP)

Depois, ele acrescentou que os adolescentes assassinados na ilha de Utoya, que integravam a Juventude Trabalhista, não eram "crianças inocentes".

Breivik também disse que passar o resto da vida na prisão ou morrer por seu povo representa "a maior honra".

"Matar 70 pessoas pode impedir uma guerra civil", disse Breivik.

"As pessoas que me chamam de diabólico confundem ser diabólico com ser violento."

Breivik explicou que a diferença está na intenção: um certo tipo de violência pode servir, segundo ele, para impedir outra violência ainda maior.

"Quando a revolução pacífica é impossível, a única opção é a revolução violenta", completou Breivik, que sempre mencionou a palavra "nós" ao falar de sua causa, dando a entender que representa um movimento mais amplo.

No final de sua intervenção, ele pediu para ser libertado.

"Atuei em uma situação de emergência em nome do meu povo, da minha cultura e de meu país. E, portanto, peço para ser libertado", completou.

Jurado inábil
O tribunal de Oslo que julga Breivik decidiu nesta terça substituir um dos jurados ao declará-lo "inábil" por ter pedido em uma rede social a pena de morte para o réu após os atentados de 22 de julho de 2011.

A juíza Wenche Elizabeth Arntzen lembrou que aos jurados, não letrados, também se aplica o artigo 108 do código sobre tribunais, que estabelece a proibição de exercer a função de juiz "quando existem circunstâncias especiais que possam debilitar a confiança sobre sua habilidade".

Arntzen acrescentou que quando foram nomeados os cinco jurados que compõem o tribunal todos haviam negado ter-se expressado publicamente sobre a culpabilidade ou não de Breivik.

O site Vepsen, que investiga temas relacionados a racismo e extrema-direita, informou que um dos três jurados não letrados do tribunal publicara um dia depois dos atentados um artigo na página do diário "VG" dizendo que a pena capital é "o justo" neste caso.

O comentário foi feito com outro nome através de um perfil no Facebook, embora a foto e o e-mail vinculados a essa conta sejam os do jurado em questão.

A juíza Wenche Elizabeth Arntzen informou na abertura da sessão que o jurado Thomas Indrebo confessara ser o autor do comentário.

Arntzen suspendeu a audiência por meia hora para estudar o caso, depois que a Promotoria, a defesa e os advogados das vítimas dos atentados pediram o afastamento de Indrebo.