Pousada Mamori - Manaus - AM

16/04/2013 15:39
Pousada Mamori, a pior pousada do mundo! Uma vergonha para o Amazonas!!

Neste final de semana entendi perfeitamente por que o turismo no Amazonas não decola. Senti na pele o sofrimento de um turista que sai de sua cidade ou de seu país esperando ser pelo menos bem tratado na selva amazônica e volta decepcionado com o que viu, sentiu, comeu, viveu e passou. Prepare-se para uma epopéia de sofrimento e maus tratos. Tudo devidamente reforçado pelos sites de compras promocionais.

Um amigo que trabalha com turismo havia me dito várias vezes que o setor estava abandonado, que não adiantava promover o Estado fora se aqui o turista não conseguia ser bem tratado. Sempre dei de ombros, mas há duas semanas nós acabamos discutindo e ele me fez o desafio de constatar o que estava falando.

Minha mulher havia comentado sobre um pacote a venda no Groupon para um final de semana em uma pousada no lago Mamori. Sempre quis conhecer o lugar, muito famoso pela beleza e pela pesca fácil. Concordei que ela comprasse a promoção. Marcamos para este último final de semana. Foi péssimo.

Os contratempos começaram logo no embarque. Marcado para as 15h no porto da Ceasa, ele só aconteceu uma hora depois, porque tivemos que esperar passageiros que simplesmente não respeitaram o horário ou foram avisados de que ele ocorreria mais tarde.

A travessia para o Careiro ocorreu sem problemas, em barco apropriado, mas logo depois vem mais uma decepção: somos acomodados em uma kombi sem ar condicionado, enquanto outros passageiros tiveram que pagar "por fora" para ter direito a uma L-200 com ar condicionado. Enfrentamos então a BR-319, que começa a apresentar sérios problemas, depois da última reforma.

Foram 44 quilômetros até a ponte do rio Araçá, onde desembarcamos em um porto improvisado, em um flutuante caindo aos pedaços. Éramos doze pessoas, incluindo quatro crianças, uma delas ainda de colo. Fomos acomodados em uma lancha de alumínio, sem coletes salva-vidas, com capacidade normal para dez pessoas. Foram 40 minutos até a pousada. A vista compesava o sofrimento até então. Mas o pior estava por vir.

Na chegada, antes das 18 horas, apenas um funcionário nos recebe em um porto improvisado. Temos que carregar a bagagem escada acima. Estava previsto um drink de boas vindas. Esperávamos uma mesa arrumadinha, com as bebidas e um couvert, mas ao invés disso a atendente - que não pode ser chamada de garçonete, porque isso ofenderia a classe - serve na mão um copo de caipirinha para cada um e um pratinho com peixe torrado e lascas de salame. Tudo bem regradinho, na base do improviso. Refrigerantes para quem não bebe, nem pensar. Se quisesse, o hóspede tinha que pagar por ele.

Vamos ao quarto. Pequenos chalés sem qualquer conforto. Uma cama dura de casal, ou duas de solteiro, sem direito a frigobar, televisão ou mesmo uma colcha nas camas. Apenas um lençol finíssimo, que nos obrigava a levantar durante a noite para desligar o ar condicionado que, apesar de ter apenas 7 mil BTUs, congelava com a ajuda do clima local à noite. No banheiro, o único "luxo": um chuveiro com água quente.

O jantar é servido e a decepção começa a aumentar. No restaurante, "refrigerado" por um ar condicionado velho e remendado com pedaços de durex, servem arroz branco ou baião com peixe frito, sem direito a farinha, limão ou pimenta. Detalhe: o peixe era jaraqui filhote ou sulamba. Decido provar o segundo. Estava horrível, estragado mesmo. Ataco o jaraca, mas é difícil driblar as espinhas de uma unidade que ainda não estava pronta para a frigideira. Sou salvo por uma panqueca de frango, que não deu pra quem quis.

Decido jogar um baralho com parceiros de viagem, mas não consigo. As mutucas começam a atacar logo após o jantar e forçam nossa volta ao quarto, já que não seria possível ficar assistindo TV no restaurante, o único local onde existia o aparelho. É que os atendentes, despreparadíssimos, tinham que fechar tudo às 20 horas e rumar para casa. O único telefone, ligado a uma antena, é levado. Ou seja, se houver qualquer problema de saúde com um hóspede, seria preciso acionar o vigia (que nós não vimos em nenhuma das duas noites) e rezar para o "gerente" acordar rápido para vir socorrer.

Não havia telas em nenhum ambiente, o que nos obriga a abrir e fechar rapidamente a porta do quarto, sob pena de passar a noite sob ataque feroz dos mosquitos.

Tudo bem, pensamos, amanhã a programação extensa vai compensar o sofrimento inicial. Qual o que! A prometida excursão para contemplar o nascer do sol e acordar os pássaros, prevista para as 5h30, não acontece. O café mantém a saga da comida ruim. Tapioca solada, bolo de macacheira que parecia guardado em uma geladeira há dias e apresenta gosto de passado, pão de forma e queijo coalho. Minha mulher é obrigada a pedir uma sanduicheira, que estava na cozinha e não foi colocada à mesa, para tentar salvar um sanduíche. Pede ainda à atendente um ovo frito. Ele vem, mexido. Comemos o sanduba, arrematamos com uma fatia de melancia e vamos procurar o que fazer.

Dispensamos a caminhada na selva para observação da diversidade, também oferecida no pacote. Todos os outros hóspedes também declinam disso, prevendo o pior. A turma prefere ir passear no lago Mamori. Vamos em duas canoas com um rabetinha na popa. O sol inclemente nos maltrata. Não havia cobertura na embarcação. Paramos em um pequeno comércio mal sortido. Era o melhor que tinha ali. Compramos algumas coisas e voltamos.

No almoço, um arremedo de feijoada acompanha o mesmo jaraqui filhote. Pelo menos a sulamba sumiu. Saio rápido, muito contrariado. O jeito é tomar uma cerveja, caríssima por sinal - R$ 5 a lata. Percebo então que trabalhores se amontoam em torno de um prato atrás do restaurante. Chego perto e pergunto se era assim que almoçavam. Um deles me diz que estava apenas aproveitando o que o hotel lhe dava, mas que correria para casa em seguida para comer uma carne de veado, que havia cassado. Quase pedi para ir junto. "Vocês não comem melhor porque a mulher (a dona da pousada) não quer. Carne de caça sobra por aqui. Ela se nega a pagar", diz ele.

À tarde, também declinamos da prometida pesca da piranha, desestimulados pelos próprios funcionários. Perguntei a um deles se era fácil pegar o peixe. Ele respondeu que seria quase impossível. O rio cheio era a razão. Começa a noite e vamos à focagem de jacarés. Depois de alguma procura, o funcionário foca um filhote e termina a "atividade".

Vem o jantar. Uma caldeirada do jaraqui filhote que não dá pra todo mundo. Já haviam chegado outros enganados, que compraram o pacote de apenas uma noite. Ataco uma lasanha, que apareceu de repente, mas penso: isso eu poderia comer em casa. Numa pousada à beira de um rio lindo como aquele, a gente espera um belo peixe, né?

No domingo, a previsão é de visitar a casa de caboclo, para observar seus usos e costumes, mas prevendo um café da manhã horrível como o do dia anterior, decidimos dormir até mais tarde. Ao acordar, pergunto aos demais hóspedes se o café havia melhorado. Eles dizem que a tapioca estava um pouco melhor, mas insuficiente para todos. Todos, sem exceção, abrem mão da programação prevista e preferem curtir a piscina, que pelo menos tem água limpa.

Como eu queria apurar tudo, decido ir à "atividade". No caminho, percebemos vários ouriços de castanha no chão. Quebramos um e decidimos pegar outros. O funcionário nos oferece um saco para acomodar as castanhas, mas depois se arrepende e censura nossa atitude, dizendo que o fruto era de propriedade de sua patrôa. Pasmos com a situação, perguntamos se tudo aquilo ali espalhado em uma área enorme não seria bom para fazer doce, temperar a tapioca, enfim, dar opções aos hóspedes. Ele diz simplesmente que não foram orientados a fazer isso. Revoltados, decidimos retornar à pousada.

O novo almoço é um cozidão, mas antes que nos servíssemos (fomos os últimos a chegar), a carne acabou e não havia reposição. Aliás, produto sequer poderia ser considerado "de segunda", tal a qualidade. Tive que me conformar com uma massa chinfrim e um caldo de cozido.

À espera pela ansiada volta, prevista para as 13h30, ouvimos um funcionário dizer que uma das lanchas que viria nos buscar havia cancelado a viagem. Corremos para apanhar nossas coisas no quarto e rumamos ao "porto" para esperar a primeira embarcação que aparecesse. Estávamos começando uma viagem de volta terrível, que aumentou ainda mais a revolta de todos.

Éramos 27 hóspedes querendo retornar o mais breve possível. Conseguimos vaga na mesma lancha que nos trouxera, igualmente abarrotada e sem coletes. Os mesmos 12 viajantes. Outras duas pequenas embarcações da própria pousada, sem proteção lateral para a chuva que se anunciava, acomodaram mais 13 hóspedes, seis em uma e sete em outra, quando a capacidade máxima seria de cinco em cada.

Chegamos primeiro ao mesmo porto improvisado da chegada, só que com sol muito mais inclemente. A chuva acabou não caindo. Não havia ninguém nos esperando, mas notamos um microônibus no local e imaginamos que fosse o nosso transporte. Batemos à porta e um garoto saiu da água e correu em nossa direção. Disse que o pai fora contratado para fazer um frete para vinte pessoas. O motorista aparece em seguida e diz que só sai com lotação total. Não havia sequer uma taberna no local para esperarmos. Tivemos que ficar ao sol até a chegada de uma nova embarcação. Ainda assim, o "gerente" da pousada não autorizou nossa saída. Disse que só autorizaria quando estivessem ali todos os 27 hóspedes, porque ele precisava nos acompanhar para pagar o barqueiro que nos atravessaria até Manaus.

Foi o momento de maior tensão em toda viagem. Já consumidos pelo estresse, vários passageiros, inclusive eu e minha mulher, se revoltaram. Um policial que estava entre nós ameaçou dar voz de prisão ao gerente e ao motorista se não nos levassem imediatamente ao porto do Careiro. Depois disso, o microônibus foi liberado. Dentro dele, além dos hóspedes, garotos de carona viajavam em pé, em um veículo com pelo menos vinte anos de uso, também sem ar condicionado. Os moleques se abaixavam na passagem pela Polícia Rodoviária, temendo que os policiais percebessem a superlotação.

Na chegada ao porto, esperamos ainda vinte minutos até que a embarcação que nos traria fosse indicada por um funcionário da pousada que nos acompanhava. Este, envergonhado, tentou amenizar a situação nos convidando para visitar sua casa na próxima viagem. "É simples, não tem ar condicionado, apenas três ventiladores. Mas pelo menos comer bem e se divertir vocês vão", disse ele. Entramos no barco e aguardamos mais vinte minutos até que o último hóspede chegasse. Chegamos enfim a Manaus por volta das 16h. Fim do sofrimento.

Depois de passar por isso tudo, posso dizer com certeza:

Groupon, saia dessa, porque vocês estão vendendo gato por lebre;

Minha amiga Oreni Braga (presidente da Amazonastur), não adianta você "vender" o Amazonas lá fora, se quando chega aqui o turista se depara com isso. Fiscalize essas "pousadas". Feche-as, se for o caso. Mas abra o olho. O turismo no Amazonas está sendo levado a pagode.

Em tempo: soube, pelos funcionários da Pousada Mamori, que no verão o local fica lotado praticamente o tempo todo, com a maioria de hóspedes estrangeiros, que vêm pescar. O detalhe é que eles garantem nunca ter visto de novo nenhum dos hóspedes que passou por ali. Pudera! Você acha que, depois do que passei, vou querer voltar? Imagine a estrangeirada...

Se você já passou por algo semelhante ou conhece alguém que também sofreu na mão desses "empresários", reproduza esse artigo em seu perfil nas redes sociais, seu blog, seu site. Vamos fazer uma corrente pelo bem do Amazonas.
Hiel Levy.