Professores e alunos da UFAM divergem sobre aplicação de trotes a calouros

04/04/2012 13:41

Divergências marcam discussão sobre aplicação do trote em estudantes recém-ingressos na UFAM. Opções como o trote solidário crescem entre os universitários.

[ i ] Trotes são comuns na UFAM para celebrar a chegada de novos estudantes.

Manaus - Muito mais que uma "acolhida calorosa" aos novos universitários, o trote pode ser uma brincadeira que, em muitas vezes, constrange os novatos das universidades federais do país. Na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), o tema divide opiniões entre professores e alunos.

Para o sociólogo da universidade, Francinézio Amaral, o trote vai além de uma simples acolhida, refletindo a dinâmica da sociedade e, até mesmo, a falta de maturidade dos universitários.

"Primeiro, temos que entender que o trote é um ritual de passagem, como o aniversário, por exemplo. Ele mostra que um ciclo se fechou e outro está iniciando. A questão é saber o limite. Para quem entra é uma novidade, por isso assusta, e os veteranos acabam exercendo aí uma relação de poder, algo que é constante na nossa sociedade. No caso de uns alunos de artes que não realizaram trote, mas se despiram para realizar uma manifestação artística na recepção dos calouros, foi um choque para as pessoas. No entanto, na novela, no cinema, as pessoas ficam nuas. As pessoas, quando entram na universidade, tem que começar a refletir sobre os valores da sociedade", ressaltou.

A professora de Ciências Sociais Izabel Valle, afirma que a brincadeira só é válida quando não desrespeita o novo membro da academia.

"Penso que o trote é bacana enquanto recepção calorosa para colocar o calouro em contato com esse novo ambiente que é a universidade. Outra coisa são as agressões ao corpo, pinturas, derramar alimentos, tirar o calçado, coisas que ridicularizam a pessoa. Vejo, por aqui, os alunos todos sujos e pintados, tendo que se submeter a pedir dinheiro no calor, isso eu não concordo. Gosto do trote sim, mas digno", apontou.

Estudantes divergem sobre aplicação ou não do trote

Uma das alternativas para uma boa recepção é o "trote solidário". O calouro de Serviço Social, Isaac Idão, ficou aliviado após sua turma decidir realizar a acolhida de uma forma proveitosa para todos. A turma irá arrecadar alimentos para doar à alguma instituição carente.

"A questão do trote na universidade faz parte de um histórico de tradição, faz parte da universidade. Precisa existir limite, claro. Foi acertado na minha turma que faríamos trotes solidários, vamos arrecadar alimentos para doar. Até tiveram umas pessoas que pediram o trote normal, diziam que o solidário não ia ter graça, mas foi a minoria. Se os veteranos viessem impondo brincadeiras, eu não ia querer participar”, afirmou.

O veterano de Jornalismo, Bruno Izidro, não abre mão da "acolhida". Para ele, tudo vale na brincadeira, desde que haja o consentimento do calouro.

"Não vejo problema desde que a pessoa não se sinta ofendida. Pelo que eu já presenciei aqui na Ufam, os veteranos costumam perguntar se querem ou não participar. Foi assim no meu trote, há 4 anos atrás. O calouro tem que saber que tem trote na universidade e estar preparado pra isso, ele tem também o direito de dizer que não quer participar", concluiu.