Solidariedade e recomeço no Natal da Comunidade Artur Bernardes, em Manaus

22/12/2012 16:38

Espaço físico foi destruído pelo incêndio de novembro, mas moradores da área continuam unidos e alertam para outras áreas de risco na cidade de Manaus.

 As vítimas receberam auxílio de R$ 500 para compra de roupas e demandas urgentes.

Manaus - Em 17 anos, este é o primeiro Natal que a aposentada Ediméia Remígio, 65, passa fora de sua casa na Comunidade Artur Bernardes. Uma das vítimas do incêndio que destruiu a residência de quase 500 famílias em 27 de novembro, ela faz parte do grupo que espera a construção de um parque residencial para voltar a morar no local e acredita que a tragédia serviu de alerta para outras áreas de risco na cidade de Manaus.

Uma das fundadoras da comunidade, Ediméia comprou sua casa em 1995, no valor equivalente a R$ 2 mil. Desde então, ela lembra, que enfrentou diversos “recomeços” ao perder todos os bens nas enchentes e alagações anuais e, há 10 anos, ouve promessas do poder público sobre a urbanização da área.

Durante o incêndio, ela perdeu além da casa, geladeira, fogão, cama, roupas e as mercadorias de sua taberna. Hoje ela, as duas filhas, os genros e os netos dividem um quitinete pago com o aluguel social no valor de R$ 400,  “Esta semana todo mundo falou em fim do mundo, mas para a minha família o mundo acabou no dia da tragédia. Agora ele está começando de novo e eu quero ter forças para continuar”, disse.

Os moradores acompanharam as notícias na imprensa local e nacional sobre o incêndio, e guardam os recortes de jornal como fonte de registro.

A dona de casa Andréa Joana Cordeiro, 32, disse que constantemente incêndios de menores proporções queimavam algumas casas e os moradores já haviam informado à Prefeitura sobre os problemas decorrentes da falta de saneamento e infraestrutura diversas vezes. Ela também reclamou da falta de investimentos públicos em programas sociais. “Parece que foi preciso uma tragédia deste tamanho para nos ouvirem. Esperamos que o nosso sofrimento sirva para evitar a desgraça em outros lugares”.

Para a missionária Arizete Mura Dineli, 53, os prejuízos não são maiores que a solidariedade despertada entre os familiares e amigos. Ela afirma que muitos vizinhos conseguiram alugar casas nas adjacências, para facilitar a mobilização, e acredita que a comunidade continua existindo apesar das casas queimadas. 

Moradora da Artur Bernardes há quatro anos, ela afirma que o incêndio serve de alerta para a sociedade sobre os risco em outras áreas da cidade de Manaus.  “Nós temos dentro da gente uma faísca do fogo que queimou tudo, porque temos a força popular. A cidade toda viu o que nos aconteceu, e agora talvez alguém se lembre que não se pode viver bem enquanto muitos vivem mal”, afirmou.

A esteticista e artesã Rosângela Cordeiro, 37, está confiante no potencial de seu trabalho para conquistar novos bens. Além da casa própria onde funcionava sua oficina e centro de estética, ela perdeu R$ 3 mil em produtos para depilação e tratamentos faciais durante o incêndio. O ponto de partida para recomeçar suas atividades foi salvo do fogo por um vizinho: uma caixa com 15 camisas customizadas por ela.

Com a venda desta produção a artesã comprou mais material para trabalhar e também ganhou alguns produtos das amigas do curso onde estuda estética. Rosângela está decidida a reconstruir seu patrimônio com a sua profissão. “Sei que vou conseguir vender muitas camisas neste fim de ano e terei como manter a produção e gerar renda para a reconstrução da vida”.

Confraternização Natalina

A Associação de Moradores da Comunidade Artur Bernardes recebeu duas toneladas de roupas e 500 cestas básicas após o incêndio. O presidente da entidade, Leonardo Farias, informou que todas as doações foram distribuídas entre as vítimas e ainda há demanda por alimentos não perecíveis.

Membro da associação desde 2003, Leonardo contou que há mais de cinco anos a comunidade espera um programa de urbanização. Depois do incêndio, o governo do Estado ofereceu três opções aos moradores: indenização de até R$ 50 mil, inclusão em um dos conjuntos habitacionais já existentes ou um apartamento no conjunto residencial que será construído na área.

Ele afirma que mais de 80% das vítimas optaram por receber o aluguel social até o novo conjunto ser entregue. “Nós gostamos de viver aqui, nos conhecemos, somos amigos além de vizinhos. Nossas casas eram barracos sim, mas tinham de tudo dentro, porque trabalhamos para dar conforto às nossas famílias. Vamos reconstruir nossos lares com dignidade”, disse. O início das obras está previsto para abril de 2013.

No domingo (22), a Associação vai distribuir brinquedos paras as crianças durante a manhã e realizará um almoço de confraternização entre todos os moradores.