Transporte fluvial é uma opção viável para Manaus
Muitos bairros de Manaus como Glória, São Raimundo, Educandos, Colônia Oliveira Machado e Mauzinho são cortados pelo Rio Negro
Manaus – O transporte fluvial poderia ser uma alternativa viável para a mobilidade urbana de Manaus, que hoje está à mercê exclusivamente das empresas de ônibus que circulam na capital. Na última terça-feira, 500 mil pessoas foram prejudicadas pela paralisação surpresa dos motoristas e cobradores. E a categoria já ameaça com uma nova greve, caso não sejam realizadas as eleições sindicais amanhã.
De acordo com o professor em planejamento urbano Jaime Kuck, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Manaus tem um potencial de transporte fluvial que não é aproveitado. “Quase 60% do perímetro urbano de Manaus é água (bacia do Rio Negro) e hoje o trânsito está sobrecarregado. O transporte fluvial seria uma alternativa bem viável, principalmente, para os bairros localizados nas margens do Rio Negro, como Glória, São Raimundo Educandos e o próprio Distrito Industrial, pela Colônia Oliveira Machado e Ceasa”, disse.
A professora Iraíde Mendes, 42, que mora no município de Iranduba, na Comunidade Mé, e estava esperando a lancha para atravessar o Rio Negro com destino ao Cacau Pirêra na manhã de ontem, é uma das muitas pessoas que prefere utilizar o transporte fluvial.
“É o mesmo custo, porém leva mais tempo ir de ônibus pela ponte (Rio Negro), porque desço no bairro Compensa e tenho que pegar outro ônibus para poder ir ao Centro de Manaus, o que dá mais de uma hora”, disse, acrescentando que, como a voadeira vai direto para o Centro, leva em torno de 15 minutos. “Esse transporte não deveria acabar”, disse, acrescentando que a Ponte Rio Negro beneficiou apenas quem tem seu veículo próprio.
“Foi gasta uma fortuna com a Ponte Rio Negro, para que uma pessoa simples percebesse que é melhor pegar uma voadeira”, disse Kuck. Segundo ele, o transporte fluvial seria uma alternativa bem mais barata e menos agressiva ao meio ambiente, porque reduziria a emissão de gás carbônico.
“No mundo inteiro, sabe-se que o investimento para melhorar o fluxo de carros, como a construção de viadutos e pontes tem data de vencimento curta. Existem muitas cidades que são proibidas por lei de fazer ampliação viária, beneficiando praticamente os automóveis. É permitido sim, quando é para melhorar o transporte coletivo e beneficiar os pedestres”, ressaltou.
Multimodal
De acordo com o professor Jaime Kuck, o interessante para o transporte coletivo de Manaus e para o trânsito fluir na capital, seria fazer um planejamento urbano com a realização de um transporte multimodal, que é a junção do transporte terrestre com o fluvial, mais a construção de ciclovias na cidade. “As pessoas são muito resistentes para isso, porque aqui é muito quente. Mas a ideia, é construir ciclovias na beira dos igarapés da cidade, conservando a mata ciliar para fazer sombra”, disse
O transporte multimodal é uma discussão antiga na capital amazonense mas o projeto nunca saiu do papel.